
Economia circular vai reinventar o consumidor
É bom você, consumidora, consumidor, começar a se preparar para a economia circular. Se ainda não parou para pensar nisso, esse tipo de economia é baseado em três ‘R’: reutilização, restauração e reaproveitamento. Essa nova abordagem de consumo, que é mais sustentável, implica mudanças como adquirir o produto como serviço, por meio de aluguer de curto prazo, locação, pagamento por uso e assinaturas.
Em lugar de comprar um bem como uma máquina de lavar e ser proprietário dele, as pessoas compram o serviço de limpeza e secagem de roupa. Pagam pelo uso da máquina, manutenção, eventual troca etc. Teremos de utilizar bem menos o pronome possessivo – meu, teu, seu, nosso. Dessa forma, não teremos diversos velhos celulares, carregadores e baterias dormindo em uma gaveta o sono eterno de obsolescência programada. Bem-vindos ao mundo da economia circular.
Essa forma de viver esvazia os lixões, inclusive os de produtos tecnológicos. Esse conjunto de ações interligadas se chama economia circular. O círculo, na verdade, é dos insumos e produtos. Que são reaproveitados, reutilizados, reparados para outros usos.
Evita-se, por exemplo, que berços, carrinhos, roupas e brinquedos de bebês vão para o lixo depois que a criança cresça. Esses produtos podem ser consertados, limpos, renovados e utilizados por outros bebês. Ou servir como base para a construção de novos produtos. De qualquer forma, serão economizados insumos como alumínio, borracha, tecido, madeira etc. E os combustíveis fósseis para o trânsito até a indústria, os atacados, as lojas e os consumidores.
Todos já ouvimos que é mais importante ser do que ter. E é isso mesmo. Ostentar é colocar mais combustível na fogueira que assa o planeta. Consumismo não apenas é cafona e caro, mas também desperdiça água, energia e outros insumos cada vez mais escassos e caros.
Para se adaptar à economia circular, além de encarar produtos como serviços, aprender a compartilhar, cuidar bem dos equipamentos e aparelhos para que durem mais do que o previsto, há que encarar fleumaticamente novidades tecnológicas como a tecnologia 5G, que ainda funciona meia-boca nos municípios em que está disponível. Por que correr para comprar um novo smartphone nesse cenário?
Com a pandemia de coronavírus, o distanciamento social e o home office, aprendemos que não precisávamos de tantos roupas, calçados e acessórios. Percebemos que os mercados de bairro nos atendem muito bem, estão próximos e têm os produtos básicos de que necessitamos.
A boa notícia é que os jovens já começaram a compartilhar produtos e serviços, por meio de grupos de amigos. Além disso, são menos ligados a bens como automóveis e imóveis.
Estão certos de seguir esse caminho, porque de nada adianta acumular bens e destruir o ar e as águas, colocando em risco a vida no planeta Terra.
Maria Inês Dolci
16.08.2023, in Folha de São Paulo