País brinca com fogo ao misturar 5G, xenofobia e banda larga cara

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Trabalhar em casa – home office – é bem mais do que um fenômeno forçado pela pandemia de coronavírus. É uma nova forma de enxergar a vida, com mais proximidade da família, sem martírio no trânsito, e com trajes informais. Todo um mercado está crescendo para atender a esta demanda. Home office, porém, depende da velocidade no acesso aos dados. Por isso, definir o fornecedor de 5G por questões políticas ou xenofobia seria uma insanidade que nos atrasaria nos negócios e na educação.

Deveríamos privilegiar trabalho, consumo, lazer e cultura, que movimentam a economia, geram renda e impostos. Quem não sabe que a banda larga é um tanto estreita, principalmente fora das maiores cidades brasileiras? Um dos seus efeitos maléficos é que os cidadãos de cidades pequenas têm mais dificuldade para se informar, prestar serviços e se divertir no mundo mais digital.

Mesmo em São Paulo, um dos maiores centros econômicos do mundo, percebemos que o aumento da demanda por Internet tornou o acesso muito mais lento. Há que melhorar este insumo fundamental para que startups possam crescer e ganhar mercado. Para que micro e pequenas empresas se conectem rápida e facilmente com fornecedores e consumidores.

Não podemos continuar pagando caríssimo pelo acesso à banda larga. Liderança significa atraso na competitividade. E um dos maiores fatores de encarecimento deste serviço é a pesada tributação estadual. É um tiro no pé, pois tal prática prejudica o empreendedorismo, tornando os municípios ainda mais dependentes dos repasses financeiros da União.

Tecnologia e sustentabilidade ambiental são duas faces da moeda do desenvolvimento. Nem preciso dizer que andamos para trás na preservação ambiental. Por algum motivo que desconheço, as autoridades federais gostam, literalmente, de brincar com fogo.

Que futuro o Brasil terá se não investir em educação, pesquisa e desenvolvimento, meio ambiente, cultura e infraestrutura tecnológica? Na melhor das hipóteses, o da mediocridade competitiva. Se tudo correr bem, e a retórica xenófoba não nos render boicotes, venderemos commodities, cujas cotações oscilam ao longo dos anos.

O home office deveria sinalizar um novo tempo, com uma visão mais avançada do que seja trabalhar e se relacionar com família, amigos e colegas. Já condenamos várias gerações à pobreza, à miséria e o nem-nem (nem estuda nem trabalha). Sem mobilidade digital, nos atrasaremos ainda mais.

A escolha do 5G será um momento decisivo, em que optaremos por retroceder, ficar parados ou ir em frente. Há muito mais em jogo nesta definição do que a subserviência gratuita.

Maria Inês Dolci

In Folha de São Paulo

 

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